terça-feira, 26 de novembro de 2013
Aos 103 anos, dona Otília carrega o mérito de ter sido a primeira mulher a tirar carteira de motorista em Florianópolis (SC).
Entrar no apartamento onde mora Otília Garofallis Fialho, no centro de Florianópolis, é topar com cristaleira, mesa e cadeiras que o governador Hercílio Luz trouxe em 1924 da França, onde tentou se curar do câncer que o vitimou antes de concluir a ponte pênsil que leva seu nome.
É ver fotografias amareladas mostrando ruas que nem de longe lembram a barafunda de veículos e do enxame humano dos dias de hoje. É ouvir histórias de um tempo em que mulheres não dirigiam, não comandavam famílias, não eram protagonistas nos negócios e não tinham o peso social que conquistaram na segunda metade do século 20.
Dona Otília, que faz 103 anos neste sábado, estava à frente de sua época e desafiou o estabelecido. Foi a primeira mulher a tirar carteira de motorista na Capital catarinense, e exibiu seu feito em alto estilo, cruzando a ponte Hercílio Luz logo após a inauguração, em maio de 1926. Quando o marido abandonou a família, mudando-se para os Estados Unidos, ela superou os preconceitos e o baque financeiro e criou as três filhas costurando e fazendo doces e bolos para fora. Quando pode, viajou pelo mundo, fiel à tradição grega de sempre extrapolar fronteiras. E, até há poucos anos, ainda dirigia um Fusca 68 vermelho pelas vias urbanas e estradas da Ilha. Essa coragem e independência garantiram a dona Otília um respeito na cidade, na colônia grega e na família, que dela se orgulha com razão. Entre as amigas que fez estão Ruth Hoepcke da Silva, mulher do governador Aderbal Ramos da Silva, Hercília Catarina da Luz, Florinda Ganzo e Kirana Lacerda, esta também de ascendência helênica.
Depois de 30 anos de trabalho, aposentou-se na Assembleia Legislativa, que a homenageou, no dia 24 de outubro, pelos serviços prestados à Casa. E neste sábado será a vez dos familiares comemorarem seu aniversário, com direito à dança de Zorba e à quebra de pratos num restaurante típico no bairro Jardim Atlântico. Fusquinha, o ‘amigo Charles’ Atravessar o século 20 é um privilégio que permitiu a Otília Garofallis Fialho ver a construção da velha ponte e desfrutar da amizade de pessoas influentes na Capital, como primeiras-damas e mulheres de empresários importantes. E ver o mar batendo na sacada do prédio onde mora hoje, na avenida Beira-Mar Norte, aterrado duas vezes – uma pelo governador Celso Ramos, outra na época de Jorge Bornhausen. E ter um mestre francês que lhe ensinou a arte de costurar para festas de gala e casamentos, ganhando prestígio na cidade. E ser citada como uma mulher corajosa que superou as adversidades com trabalho e persistência.
Fonte: De carona com elas/Notícias do Dia
Foto: Daniel Queiroz/ND- http://bit.ly/1htUH75
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